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Artigo | Reflexões sobre o Bicentenário

Por Roberto Mayer, VP de Planejamento e Governança da Federação Assespro

Completamos duzentos anos como um país independente. Motivo de festa? Qual o significado? Que queremos?

Este tipo de reflexão, inspirado em aniversários redondos de datas magnas dos países, é um exercício comum de ser feito ao redor do mundo. Este texto é inspirado pelo meu sentimento de falta deste tipo de reflexão coletiva em nosso Brasil aniversariante.

De onde viemos? Onde estamos? Para onde queremos ir?

Essas três simples questões abrem diversas oportunidades, que foram desperdiçadas. Quando questionamos ‘de onde viemos’, observo que o conhecimento médio a respeito da nossa história é muito baixo – a oportunidade de desenvolver o assunto como uma grande campanha educacional permitiria não apenas sanar essa deficiência, mas criar as bases para uma compreensão melhor do ‘onde estamos’.

Nossa situação atual, de acordo com a descrição ‘federal oficial’ é um mar de rosas, não fossem as ‘anomalias externas’, como a pandemia e a guerra na Ucrânia. Essa visão simplista inclui a negação de todas as nossas dificuldades internas: nenhuma pessoa e nenhuma nação carecem de oportunidades de melhoria, não é mesmo? De reformas na própria estrutura da Nação à melhorias na infraestrutura passando pela formação de nossos cidadãos, apenas eu enxergo oportunidades?

De passagem, observo que as comemorações oficiais fizeram muito pouco uso do significado do Bicentenário. Na comunicação do nível federal, esta palavra praticamente não se fez presente. As reinaugurações do Museu do Ipiranga, em São Paulo, e do Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora, foram de responsabilidade estadual e municipal.

Quando questiono ‘para onde queremos ir’, as respostas esperadas se constituem em planos de longo prazo, que permitam concretizar estratégias previamente acordadas. A maioria dos exemplos que conheci usou o aniversário destacado como data final, para entregar ao país o resultado desses planos como um presente de aniversário.

Por aqui, entretanto, mesmo estando no meio de uma campanha eleitoral que definirá o mandatário da nação pelos próximos quatro anos, não há qualquer sinal desse tipo de atividade. Os candidatos mais bem colocados nas pesquisas optam por se atacar no nível pessoal mutuamente, gerar promessas pontuais para atrair votos de públicos específicos, etc. Ações dessa estirpe podem gerar resultados apenas no curto prazo. E o longo?

Sim, alguns candidatos estão desenvolvendo planos de governo, entregando fatias dos problemas nacionais a equipes de especialistas. Será esse o caminho?

Em primeiro lugar, o todo é maior que as partes: os planos setoriais precisam ser sinérgicos para serem eficazes. Em segundo lugar, deveriam estar sendo debatidos com a sociedade organizada há tempos, e não apenas instaurados durante o nosso veloz período de campanha eleitoral.

Em segundo lugar, é necessário deixar de pensarmos em planos de governo, para termos planos de estado ou nação: sua duração deve ser superior ao mandato concedido pelas urnas a um determinado político. Num país no qual até a Constituição é modificada constantemente em função de interesses momentâneos, ‘planejamento de longo prazo’ parece ser um palavrão.

Mas, só se enfrentamos os verdadeiros palavrões, e não aqueles que viraram manchete nesta campanha eleitoral, poderemos ter o que realmente comemorar como aniversário da Nação!

Esse quadro, entretanto, não virá apenas daqueles que disputam o poder entre si: contribuições concretas advindas da sociedade civil organizada (como por exemplo o Manifesto aos Presidenciáveis da Federação Assespro), são tijolos essenciais na construção de nosso lar nacional.

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